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UM ADEUS INESPERADO

Eu vivi momentos difíceis, mas ao mesmo tempo, posso garantir que foram extraordinários! Foram momentos e situações de extremo desespero, e ao mesmo tempo, de muito amor. Amor com paixão, amor fraternal, mas, em especial, um amor inexplicável, o amor de Deus! Esse, para mim, foi palpável em várias circunstâncias.

No dia em que descobrimos que nosso segundo filho seria uma menina (04/12/2015), aquela felicidade enorme por termos a nossa Lúcia, foi também o dia em que recebemos a notícia de que uma jornada se iniciaria. A segunda consulta do dia era do Estêvão com o Neurologista. Ali tivemos o diagnóstico de um nódulo no cérebro. Precisava de uma cirurgia “urgente”.

Em nosso município não faziam este tipo de cirurgia, então, conseguimos em tempo recorde uma consulta com o neurocirurgião. Fizemos os exames pré-operatórios e marcamos a cirurgia, tudo em menos de 07 dias. Percebi ali o agir de Deus!

Nos mudamos para Campo Grande, na casa da minha tia, para os procedimentos. Até o médico se surpreendeu com toda rapidez que aconteceu. Voltamos para casa dia 23/12/2015, mesmo com o carro quebrando no meio do caminho, foi uma viagem muito feliz.

Naquele Natal, passamos com a família reunida na casa da irmã do Estevão em Três Lagoas, entre amigos e familiares, e foi muito gratificante, era bom estar em casa novamente.

Contudo, a cirurgia havia sido inconclusiva. Começamos as nossas idas e vindas a médicos e laboratórios, buscamos especialistas como: infectologistas, reumatologistas e neurologistas; além de diversos e incômodos exames.

Em um desses exames tivemos uma resposta de oração por whats app. O plano de saúde não cobriria todos os exames solicitados, e precisávamos pagar uma quantia muito alta. Claro que não teríamos como pagar. Meu sogro nos disse: vamos orar! Assim o fizemos.

Em seguida, ele postou nos grupos da família e amigos, a nossa situação. Em menos de duas horas, um amigo disse que gostaria de ajudar. Informamos o valor que precisávamos e ele disse que pagaria todo o exame. Este foi um agir direto de Deus, pois tivemos um norte sobre o que poderia estar acontecendo com o Estêvão.

Em fevereiro de 2016 Estêvão precisou retornar as pressas para Campo Grande para outra cirurgia, esta de emergência. Neste período o tempo de hospitalização foi muito grande e desanimador. Pensando em uma forma de reanimá-lo, combinei com meu pai e a irmã do Estêvão, de trazerem o nosso filho Lucas, até Campo Grande, pois o Estêvão teria que sair do hospital para fazer um exame.

Com tudo combinado eles nos esperassem no laboratório com o Lucas, que tinha 2 anos na época, e não via o pai a 15 dias. Nunca vou esquecer a alegria dele ao rever o pai e a felicidade do Estêvão em tê-lo por perto novamente. A saída deveria durar 40 minutos, mas o motorista da ambulância e os funcionários do laboratório se emocionaram também, e fizeram de tudo para estender a nossa estadia, e lá ficamos duas horas matando saudades. Esta visita rápida deu novo ânimo ao Estêvão. Depois de 20 dias de hospitalização, voltamos para casa ainda sem uma conclusão.

O nome do nosso então inimigo chegou em março de 2016, e o conhecemos como Sarcoma Sinovial Monofásico na pleura. Um câncer raro e no lugar errado. Eu estava grávida de oito meses, Lucas acabara de completar 3 anos, e decidimos partir para a luta.

A pequena Lúcia nasceu em abril de 2016, enquanto Estêvão estava em Ribeirão Preto para mais exames com minha mãe e meu sogro, e eu e minha sogra em casa com nossos pequenos. Como foi precioso ter o cuidado de nossos pais e mães naquele período. 

Quando Estevão retornou para casa, Lúcia tinha 11 dias de nascida, registrei na mente e em foto este primeiro encontro, ele encantado com a tão pequena e frágil filha. Era mágico o momento, pois nossos filhos eram sonhados e orávamos por eles desde que casamos, eram nossas respostas de orações à Deus.

A partir daí, começou a primeira batalha com a primeira quimioterapia agressiva e ele resistiu bravamente até o fim desta etapa. Voltamos a morar em Campo Grande, para as sessões de radioterapia. Em vários momentos e várias vezes, eu sentia a presença de Deus conosco.  O Estêvão parecia passar muito bem por este processo, nada abalava a sua fé em Deus. Ele sempre esteve certo de sua salvação.

As sessões de radioterapia eram para ser rápidas, mas ficamos em Campo grande do final de outubro, até 20 de dezembro daquele ano.

Mais uma vez, estávamos em casa para o Natal. Em especial, comemoramos em nossa lar, com nossas famílias reunidas, louvamos e agradecemos à Deus neste momento que, com certeza, contávamos com a presença de D'Ele.

Então Deus colocou mais pessoas amadas, médicos, enfermeiras, psicólogas, amigos da igreja e de fora dela. Foram tantas pessoas, que tenho medo de citar uma e acabar esquecendo outra. Pessoas de longe, que até hoje não conheço pessoalmente foram fundamentais no processo, e as amo por isso.

O agir de Deus foi diário, como em nossas reuniões de pequenos grupos, por exemplo, no qual tínhamos refrigério, percebendo a presença maravilhosa de Deus.

Sabíamos que lutávamos para ter mais tempo, pois desde o início, o tratamento era paliativo. A cada retrocesso da doença, agradecíamos a Deus, e a cada avanço da doença, continuávamos clamando a Ele. Acreditávamos sim, que se Deus quisesse, por um milagre, o câncer poderia morrer, mas sabíamos também, que a vontade de Deus é boa, pode ser dolorosa, mas é a melhor para nós.

Em 02 de setembro de 2017, ao dar início a 3ª tentativa de quimioterapia, Estêvão se sentiu mal, foi internado, e neste momento, sentimos que a luta estava sendo vencida e não era a nosso favor a vitória. Sabíamos que a morte era uma possibilidade real, mas nunca ela esteve tão perto.

Conversávamos sobre isso, mas, mais uma vez nos deparamos com o fim. Sabe, a parte doída da morte, não era deixar de existir no mundo, mas não poder estar perto de quem amamos, e neste caso, nossos filhos eram muito pequenos quando tudo aconteceu.

Pedíamos à Deus, que prorrogasse a existência do Estêvão, pois se ele partisse quando nossos filhos tivessem mais idade, levariam não só a memória do pai, mas saberiam dos valores e conseguiríamos formar o caráter deles, e isso seria significativo não só para as crianças, mas para nós também.

Estêvão chegou a receber alta desta vez, dia 15 de setembro ele voltou para casa, mas as complicações eram muitas, assim como as nossas orações. Nesse período começamos aceitar que o pior viria.

Na manhã de 18 de setembro de 2017, Estêvão deu beijos em nossos filhos, disse que os amava e desejou uma boa aula para eles. Ele disse que tinha dormido a melhor noite dos últimos tempos. No entanto, suas forças haviam esgotado, ele não conseguia mais caminhar até o carro. Assim que nossos filhos foram para a escola, precisei chamar a ambulância para levá-lo ao hospital.

No trajeto até o hospital, entre respostas para a equipe médica, e meu choro, o motorista me reconheceu, e começou a chorar comigo, éramos conhecidos da mocidade, ele sabia quem eu era, e se compadeceu.

A notícia que não queríamos dar deveria ser passada aos familiares e amigos: Estêvão não iria resistir, era hora do adeus. Ele, aos 35 anos estava consciente e me dizendo que estava tudo bem, que sabia quem o esperava, e iria em paz, pois sempre teve a certeza de sua salvação.

Os amigos e familiares vieram, lotamos o hospital, mas infelizmente, quando as irmãs e cunhados do Estevão ainda estavam chegando de Curitiba, pois voltaram para Três Lagoas o mais rápido que conseguiram, já era tarde. Estêvão faleceu às 14 horas daquele mesmo dia. O velório foi naquela noite, na igreja, que lotou durante a mensagem de adeus, e voltou a lotar pela manhã, para o cortejo.

Isso eu posso afirmar: Deus estava lá! Não esqueço o semblante de paz no rosto já sem vida, de um sofrimento que enfim terminara. O seu rosto mostrava a paz de um filho que sabia para onde retornara, a casa do PAI.

Era algo que não víamos a algum tempo. Nossos filhos não foram, por decisão minha, pedi que eles ficassem com meu pai, pois a última imagem do pai deles foi de carinho, afeto e amor. Expliquei por várias vezes depois a eles, que o papai estava curado, mas não poderia mais voltar para casa, porque para receber a cura, Jesus precisou que ele fosse embora, mas que o amor dele estaria sempre em nossos corações.

Hoje, graças a Deus, estamos bem, aprendemos a conviver com a falta do Estêvão, não que não tenhamos saudades, ou que de vez em quando não nos permitimos chorar, e falar o que sentimos, para que possamos talvez tornar real a sensação,  ou até mesmo, pedir ajuda à família, quando o assunto é: o que o Estêvão fazia em tal situação.

Sim, cheguei a ter meus momentos de dúvida e extrema tristeza, mas sei que não era isso que o Estêvão queria, não desejara ser uma memória triste e melancólica, mas sim, uma lembrança agradável, querido e amável, como sempre fora em vida.

Também questionei muito a Deus, sobre o “por quê” de tudo o que vivemos, mas a resposta não tardou a chegar e forma de outra pergunta: “Não valeu a pena?”; e a resposta é: “SIM, valeu muito a pena!”

Aprendemos a comemorar e celebrar cada dia juntos, mesmo em tempos tão adversos de pandemia, não a esperar que o tempo melhore, ou a fase ruim acabe, mas o simples fato de podermos estar juntos.

Não posso dizer que: “Deus nos abandonou”; não posso dizer que: “não fui carregada pelas mãos de Deus”; não posso dizer que: “não sou grata”. Se tem uma coisa que posso garantir, é que Deus esteve conosco em todos os momentos.

 

Débora Milanez dos Santos Prediger

Viúva de Estêvão Prediger

(⋆ 08/07/1982- 18/09/2017)

Três Lagoas, 04 de novembro de 2020.