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Rm 8.29; 2 Co 3.18 e 1 Jo 3.2I

            No domingo passado, depois do culto, chegando em casa, lembrei-me que tinha um jogo de futebol da seleção pré-olímpica do Brasil. O Brasil precisava ganhar o jogo para poder ir às olimpíadas de Tóquio, pois apenas tinha empatado nos dois jogos anteriores. O problema é que o jogo era contra a Argentina, que já havia ganho os dois jogos anteriores. Quando liguei a TV, o jogo já estava quase no fim. Fiquei aliviado porque o Brasil vencia de 3 X 0 e já não havia mais risco de o Brasil ficar fora das olimpíadas.

            Estou me sentindo como um técnico, em final dum torneio, prestes a entregar o cargo de técnico interino, aliviado porque o time está classificado. A partir daqui a Miss. Daline assume o comando desta equipe. Todos juntos, porém, estamos indo rumo ao alvo! Mas… qual é o propósito de Deus para o seu povo?

            Já vimos nos dois domingos anteriores:

            – O propósito de Deus é que demos muito fruto;

            – Seu propósito conosco também é desenvolver em nós uma fé madura, sólida.

            Olhando outros textos bíblicos (Jo 15.8; Mt 5.16), também podemos concluir que o seu propósito para conosco é que glorifiquemos a Deus e que sejamos uma bênção para o mundo.

            Há, porém, um propósito maior de Deus para com o seu povo. Foi o que fui percebendo através dos anos de caminhada de fé. O que Deus quer conosco? Qual é o seu propósito último para com você e para comigo?


DEUS TEM POR PROPÓSITO A NOSSA SEMELHANÇA COM CRISTO

            Quando fui jovem (já faz algum tempo!, eu me debatia com perguntas existenciais. Eu não queria passar a vida à toa. Queria ser e fazer aquilo para aquilo que fui colocado neste mundo. Por misericórdia de Deus, cheguei a uma fé viva em Jesus Cristo e, sob o Seu chamado, optei dedicar a minha vida a servi-lo. Foi aos poucos que Deus me revelou qual é o propósito último de Deus para comigo, assim como para todo o seu povo. O teólogo Dr. John Stott me ajudou, em grande parte, a entender que o alvo final de Deus para mim e para todos os que chegaram à fé é a semelhança de Cristo. Boa parte desta mensagem se baseia no último sermão de Stott (2007) “O Modelo”.

  1. Base bíblica

Verifiquemos a base bíblica para o nosso chamado de Deus à semelhança a Cristo. Para isso convido vocês a verificarem em suas Bíblias três textos e animo vocês a memorizarem estes três versículos. Também podem escrevê-los em letras grandes e fixar em algum lugar visível de suas casas. Eles são essenciais para o nosso viver cristão: Rm 8.29; 2 Co 3.18 e 1 Jo 3.2.

Passado. Rm 8.29: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.

Aqui lemos que Deus predestinou seu povo para ser conforme a imagem do seu Filho, isto é, para tornar-se tal como Jesus é.

Do Antigo Testamento aprendemos que originalmente Deus criou o ser humano à Sua imagem e semelhança, mas que o homem perdeu muito (embora não tudo) desta imagem de Deus quando Adão e Eva caíram no pecado.

No Novo Testamento lemos, então, que Deus restaurou esta sua plena imagem em Jesus Cristo, como o segundo Adão. Jesus, como homem na terra, foi a amostra humana em quem o mundo pôde ver plenamente a imagem de Deus. Agora Deus tem por propósito último restaurar plenamente em nós, através de Jesus Cristo, a sua imagem perdida desde Adão. Voltarmos a ser conforme (= ser como a fôrma) a imagem de Deus significa, portanto, semelhança com Cristo. Este é o eterno propósito de Deus para o qual ele nos predestinou desde muito antes de nascermos.

Presente. 2 Co 3.18: “E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhorsegundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito”.

Neste texto podemos constatar que é pelo Espírito Santo, o qual em nós habita, que estamos sendo transformados com glória cada vez maior. Isso é algo magnífico! Neste segundo estágio de tornar-se como Cristo, observamos que a perspectiva mudou do passado para o presente, da predestinação eterna de Deus (passado) para a transformação sendo operada em nós pelo Espírito Santo (presente). Do eterno propósito de Deus para nos tornar como Cristo há, agora, uma mudança para a ação histórica em nós  no presente.  E ela é operada pelo Espírito, visando transformar-nos à imagem de Jesus.

Futuro. 1 Jo 3.2: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes  a ele, pois o veremos como ele é”.

Não sabemos os detalhes de como seremos no último dia, quando Jesus voltar, mas sabemos duma coisa certa: seremos como Cristo é! Também não há necessidade de sabermos maiores detalhes sobre o dia da volta de Cristo. Basta sabermos isso: seremos como Jesus! Para mim basta saber que estarei com Cristo naquele dia e que serei como Cristo, para sempre!

Assim, temos três perspectivas: passado, presente e futuro. Todas apontam para a mesma direção: para o eterno propósito de Deus conosco. Para esse propósito fomos predestinados (passado)! Para este propósito estamos sendo transformados pelo Espírito Santo em nós (presente).  E para este propósito final (ou escatológico) de Deus estamos nos encaminhando, ou seja, seremos como Cristo, pois o veremos como Ele é.

Todos os três propósitos – o eterno, o histórico e o escatológico – convergem para o mesmo fim da semelhança com Cristo. Este é o propósito maior de Deus para o seu povo que crê em Jesus Cristo. Esta é a base bíblica para o tornar-se como Cristo. Este é o grande propósito de Deus para o povo de Deus: reconstruir em nós a imagem de Deus que foi perdida na “queda” do homem.

  • SEMELHANTES A CRISTO

Podemos ser semelhantes a Cristo? Em alguns aspectos a encarnação de Jesus é única e não tem como ser repetida, como, por exemplo, na morte na cruz por nós. Nisso a encarnação de Jesus é única e definitiva. Nós não podemos morrer pelos pecados da humanidade. Isso só Jesus pôde fazer e feito está!

Há, porém, um outro aspecto da encarnação de Jesus que pode e deve ser imitada por nós. Isso é possível pela maravilhosa graça de Deus. João diz em 1 Jo 2.6: “Aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou”. Em outras palavras, se afirmamos que somos cristãos, devemos ser como Cristo. Com a ajuda do Espírito Santo em nós, Deus deseja trabalhar em nós essa “semelhança com Cristo”. Em que aspectos, por exemplo?

 


Cinco aspectos nas quais Deus deseja que nos tornemos semelhantes a Cristo:

  1. Na humildade de Cristo

Somos chamados por Deus a imitar Jesus na sua imensa humildade em descer da glória do céu para o mundo caído da terra.

Em Fp 2.2-5 Paulo escreve: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz”!Devemos ser como Cristo em sua encarnação na admirável auto-humilhação que reside nessa encarnação (= tornar-se carne humana). Você se torna semelhante a Jesus quando sua postura é de auto-humildade, tal como foi a de Jesus!

  • No serviço de Cristo

Em segundo lugar, devemos ser como Cristo em seu servir. Quando olhamos para a vida de Jesus (encarnado neste mundo), observamos que sua vida na terra, do seu nascimento até a morte, foi uma vida de serviço. Ele veio para servir! Apenas fiquemos com a cena da sua última noite, antes de ser crucificado, no cenáculo onde Jesus celebrou a ceia pascal com os seus discípulos. João registrou isso.

Lemos em Jo 13: “Ele tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura; derramou água numa bacia e lavou os pés dos seus discípulos. Quando terminou, voltou ao seu lugar na mesa e disse: Se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei exemplo, para que vocês façam como lhes fiz”.

Há grupos de cristãos que assumem essa ordem de Jesus literalmente e têm uma cerimônia de lava-pés em sua Santa Ceia mensal ou na Quinta-feira santa de noite. Talvez estejam corretos ao fazê-lo. Mas penso que devemos transpor essa ordem de Jesus culturalmente. Assim como Jesus executou um trabalho de escravo na cultura em que viveu na terra há 2.000 anos, também nós não deveríamos considerar nenhuma tarefa por demais humilhante ou degradante, em nossa própria cultura, para que a façamos no servir uns aos outros. Você se torna semelhante a Jesus quando aprende a servir como Jesus serviu!

  • No amor de Cristo

Um outro aspecto no qual devemos ser como Cristo é no amor. A Palavra diz em Ef 5.2: “e vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus”.

Observem que o texto contém duas partes: 1) A primeira é viver em amor. É uma determinação de que todos os nossos procedimentos deveriam ser caracterizados pelo amor. 2) A segunda parte do versículo fala que Cristo se doou por nós, fazendo uma referência à cruz, pois faz referência a um evento do passado. Aqui a Palavra está nos constrangendo a sermos como Cristo em sua morte, ou seja, a amarmos com o amor doador demonstrado por Jesus no Calvário. Isso significa que Paulo (quem escreve a carta de Efésios) está nos constrangendo a sermos como Jesus em sua encarnação; a sermos como o Jesus lava-pés e a sermos como o Cristo da cruz.

  • Na persistência de Cristo

Em quarto lugar, devemos ser como Cristo em sua persistência paciente. Para tal vamos olhar um dos ensinos da primeira carta de Pedro onde faz uma referência ao nosso sofrer como Cristo sofreu. Aliás cada capítulo da primeira epístola de Pedro faz uma alusão ao nosso sofrer como Cristo.

Em 1 Pe 2.18-21, por exemplo, Pedro recomenda aos escravos cristãos que sofriam maus tratos de seus senhores: “Escravos, sujeitem-se a seus senhores com todo o respeito, não apenas aos bons e amáveis, mas também aos maus. Porque é louvável que, por motivo de sua consciência para com Deus, alguém suporte aflições sofrendo injustamente… se vocês suportam o sofrimento por terem feito o bem, isso é louvável diante de Deus. Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos”.

Observem o que Palavra diz: “…para que sigam os seus passos”! Esse chamado à semelhança de Cristo no sofrimento injusto, possivelmente, será algo cada vez mais relevante neste século, à medida que a perseguição aos cristãos cresce em muitas partes do mundo.

Ser semelhante a Cristo, inevitavelmente, implica em sofrer injustiças e, como Jesus, suportá-las com persistência paciente!

  • Na missão de Cristo

Um quinto exemplo da semelhança de Cristo é que devemos ser como Cristo em sua missão. Observemos o ensino do próprio Senhor Jesus e, Jo 20.21. Ali Jesus diz em oração: Assim como o Pai me enviou, eu os envio”! Esse “os” somos nós! Também em Jo 17.18 Jesus disse em oração: “Assim como me enviaste ao mundo, eu os envio ao mundo”.

São palavras muito significativas! O envio ao mundo, ou seja, a nossa missão, deve remeter à missão de Cristo no mundo. De que maneira? Vejam. As palavras chave nesses textos são “enviados ao mundo”. Como Cristo entrou em nosso mundo, nós devemos entrar nos mundos das outras pessoas. No mundo das dúvidas das pessoas, das angústias, das preocupações, das frustrações, das dores, etc.

Esse entrar no mundo das outras pessoas é o que se chama de evangelismo de encarnação. Toda missão autêntica é missão de encarnação. Devemos ser como Cristo em sua missão. Ele entrou no mundo caído, sofrido e desestruturado das pessoas. Assim, devemos ser semelhantes a Cristo na missão no mundo!

Essas são as cinco principais (não únicas) maneiras pelas quais devemos ser semelhantes a Cristo: na sua humildade, no seu serviço, no seu amor, na sua persistência diante do sofrimento injusto e na sua missão.

 

 ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS

Agora três consequências práticas do assemelhar-se a Cristo;

  • A semelhança a Cristo e o mistério do sofrimento.

Só o sofrimento já é um enorme assunto por si só. Há muitas maneiras como os cristãos tentam entender o sofrimento. Uma destas maneiras destaca que o sofrimento é uma parte do processo de Deus para nos tornar semelhante a Cristo. Eu vejo o sofrimento sob esta perspectiva em meu conhecimento das Escrituras. Independente do tipo de sofrimento que passamos, se causado por doença, desapontamento, uma frustração de plano ou outra tragédia na vida, devemos tentar ver a situação sob a ótica de Rm 8.28-29. Deus sempre está trabalhando para o bem de seu povo, e conforme Rm 8.29, esse propósito maior é tornar-nos como Cristo é.

  • A semelhança a Cristo e o desafio do evangelismo.

Talvez você já tenha percebido que muitas das nossas iniciativas evangelísticas não deram certo. Por que será? Pode haver diversas razões, mas uma razão fundamental é que não nos parecemos com o Cristo que estamos proclamando. Li recentemente a afirmação: “A pregação mais efetiva vem daqueles que corporificam as coisas que estão dizendo. Eles são a mensagem. Cristãos precisam parecer com o que estão falando. Basicamente não são as palavras ou ideias, mas pessoas que comunicam. Autenticidade se transmite com a vida. No mais íntimo das pessoas, o que comunica hoje é basicamente a autenticidade pessoal.

Isso é semelhança a Cristo. Vou dar um exemplo. Havia um professor hindu na Índia que, certa vez, identificou um de seus alunos como sendo cristão e lhe disse: “Se vocês cristãos vivessem como Jesus Cristo, a Índia estaria a seus pés amanhã”. Na realidade a Índia, hoje com 1,3 bilhões de habitantes, se tornaria cristã em pouco tempo se nós cristãos vivêssemos como Cristo. Do mundo muçulmano, o Pastor Iskandar Jadeed, que era um árabe muçulmano, disse que “se todos os cristãos fossem cristãos, isto é, como Cristo, não haveria mais islamismo hoje”.

  • A semelhança a Cristo e a presença do Espírito Santo.

É possível, na realidade, o assemelhar-se a Cristo? Pela nossa própria força, evidentemente, que não! Mas Deus nos deu seu Espírito para habitar em nós, para nos mudar de dentro para fora. Por mim não, mas pelo Espírito Santo em mim, posso viver uma vida semelhante a de Jesus!

CONCLUSÃO

Em resumo, o que tentei dizer: o propósito último de Deus é tornar a nós semelhantes a Cristo!  O instrumento que Deus usa para trabalhar em nós a semelhança a Cristo é nos enchendo com o Seu Espírito. Deus Pai, Jesus o Filho e o Espírito Santo trabalham juntos neste propósito para com o seu povo: Tornar seu povo semelhante a Cristo. A plenitude disso havemos de experimentar quando da volta do Senhor (1 Jo 3.2). Amém.

 

Pr. Irno Prediger – Pastor Emérito