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Renovo: conflitos internos levam a mudança geral

 

O fim do ano era marcado por uma tradição na casa dos meus pais. Tradição essa que eu não gostava muito, mas que para minha mãe era de extrema importância. A faxina anual! A faxina em que a casa é lavada do chão ao teto, literalmente. Todas as paredes são esfregadas e tudo, mas tudo mesmo, passa por essa faxina.

Eu sempre amei o natal e me alegro quando posso montar a decoração de natal em casa, mas eu só podia fazer isso depois da faxina. Que dia trabalhoso! No entanto, quando acabava só ficava aquele cheirinho bom de limpeza e a deliciosa sensação de organização.

Uma questão interessante é que quando resolvemos fazer uma faxina em casa, parece que surgem bagunças e mais bagunças e aquela faxina vai cada vez ficando mais demorada e mais intensa. Começamos com a ideia de demorar uma hora na faxina, mas levamos duas ou três.

Reformas também são assim. Já ouvi muitas pessoas falarem que ao orçar uma reforma pode sempre colocar uma margem de gastos a mais, por que sempre surge algo a mais pra concertar. Bom na história do Neemias também acontece algo assim. A intenção dele era apenas concertar um muro, mas ao conviver em Jerusalém ele percebe que há outras problemas ali que precisam ser corrigidos. Problemas não apenas de estrutura, mas de convivência e amor ao próximo.

Vamos falar de imprevistos em reformas:

“Ora, o povo, homens e mulheres, começou a reclamar muito de seus irmãos judeus. Alguns diziam: "Nós e nossos filhos e filhas somos numerosos; precisamos de trigo para comer e continuar vivos". Outros diziam: "Tivemos que penhorar nossas terras, nossas vinhas e nossas casas para conseguir trigo para matar a fome". E havia ainda outros que diziam: "Tivemos que tomar dinheiro emprestado para pagar o imposto cobrado sobre as nossas terras e as vinhas. Apesar de sermos do mesmo sangue dos nossos compatriotas e dos nossos filhos serem tão bons quanto os deles, ainda assim temos que sujeitar os nossos filhos e as nossas filhas à escravidão. E, de fato, algumas de nossas filhas já foram entregues como escravas e não podemos fazer nada, pois as nossas terras e as nossas vinhas pertencem a outros". Quando ouvi a reclamação e essas acusações, fiquei furioso”. Neemias 5:1-6

Lembra do Contexto?

Neemias tinha um foco, um planejamento: a reconstrução do muro, que inclusive, estava a todo vapor. Surgem nesse meio tempo inimigos querendo derrota-los e parar a reconstrução e, com isso, Neemias reestrutura seu plano colocando pessoas para defender e pessoas para construir.

Ao que parece tudo seguia bem, com algumas mudanças no planejamento, mas bem. Até que surge outra temática para Neemias administrar nesse meio tempo, algo que ele não tinha planejado. Lembra da bagunça e da sujeira inesperada na faxina? É mais ou menos isso. Agora o problema que trazem a Neemias não está relacionado a infraestrutura, mas a vida cotidiana de povo.

 Neemias se depara com um problema econômico e social grave. Os próprios judeus estavam divididos. Além das pressões externas e de toda uma história de sofrimento no exílio, agora os próprios judeus estão divididos, em que sentido? Os ricos estavam aproveitando-se da situação de dificuldade, pobreza e fome e tirando proveito dos mais pobres.

Com isso, os ricos ficavam cada vez mais ricos e os pobres mais pobres. Isso não é diferente do que vivemos hoje na questão da injustiça social.  Eles estavam vivendo um período de injustiça em que esqueceram-se das Leis que regiam sua nação e principalmente, esqueceram-se de Deus que os ordenara a cuidar uns dos outros como povo.

É importante observarmos que o livro de Neemias tem um capítulo inteiro dedicado a uma temática que nós muitas vezes consideramos secular, algo que não diz respeito a igreja. Políticas públicas, injustiças sociais, impostos, juros, escravidão, e daí por diante.

 Passamos por um período propício a falar dessa temática, as eleições. Período em que votamos para escolher as autoridades municipais que vão conduzir nosso município por mais 4 anos. E se você pensa que a Bíblia não trata desse assunto, então está enganado. Neemias foi uma autoridade em Judá, em Jerusalém. Um governador! Um personagem que tem muito a nos ensinar como servo de Deus, como líder e como autoridade pública.

Como governador Neemias preocupou-se com diversas áreas da vida pública. O motivo que o levou a Jerusalém foi a reconstrução do muro. Lembre-se no que isso implica, o muro restaurado daria ao povo de Jerusalém:

            - Segurança contra invasores e saqueadores;

            - Proteção noturna contra inimigos de guerra que desejavam tomar suas terras e torna-los escravos;

            - Melhor qualidade de vida e tranquilidade;

            - Alegria em saber que moravam em uma cidade bem cuidada e que lhes oferecia acolhimento e segurança a família;

 

Com esse projeto Neemias melhora a infraestrutura da cidade, a segurança, o lazer (pois são removidos entulhos), e nesse capítulo 5 vemos que ele intervém também na economia, garantido que os judeus tenham uma vida digna e que uns cuidem dos outros.

A conversa de Neemias com os ricos não é simplesmente porque ele desejava fazer uma boa ação, na verdade, ele tem bons argumentos para confrontar a atitude daqueles homens.

Uma causa social importante

Por serem escravos exilados, o povo de Deus para retornar a Jerusalém precisava ser comprado pelo seu próprio povo. Conforme era possível as famílias pagavam os valores e aos poucos os Judeus voltavam para casa. Nesse caso eles eram escravos de outros povos, outras nações, sendo assim, ao retornar a Jerusalém, era difícil refazer a vida e se estruturar, ainda mais quando aqueles que podiam ajudar nessa retomada estavam se aproveitando para enriquecer a custa do sofrimento do outro.

Neemias confronta os ricos de Jerusalém

A confrontação de Neemias tem base na própria Lei que Deus tinha dado ao povo. Lei essa que eles haviam esquecido. Que tinha se perdido da memória deles.

"Se alguém do seu povo empobrecer e se vender a algum de vocês, não o façam trabalhar como escravo”. Levítico 25:39

"Se fizerem empréstimo a alguém do meu povo, a algum necessitado que viva entre vocês, não cobrem juros dele; não emprestem visando lucro”. Êxodo 22:25

Ao que parece no texto o confronto é tranquilo, eles aceitam a instrução de Neemias e mudam seu posicionamento. “Eles ficaram em silêncio, pois ficaram sem resposta”. Neemias 5:8. Não é relatado ali nenhuma grande confusão com esse tema, Neemias mostra aos mais ricos o que era correto e eles acatam a instrução de Neemias, devolvendo o que haviam tirado do povo e tomando uma postura de auxílio e cuidado.

 A postura de Neemias com líder

Esse assunto leva, também, a outro. Neemias era um dos homens mais importante em Jerusalém naquela época, pensando assim, com certeza, ele poderia enriquecer facilmente à custa do povo como governador. Ao invés de tomar o lado dos que estavam sofrendo, Neemias poderia ter optado por entrar na onda e se aproveitar do povo também. Poderia se tornar um homem poderoso em Jerusalém e não voltar mais a ser um mero servente do rei.

Vamos ler como Neemias lidava com essa situação e com sua finança pessoal como governador em Jerusalém:

“Além disso, desde o vigésimo ano do rei Artaxerxes, quando fui nomeado governador deles na terra de Judá, até o trigésimo-segundo ano do reinado, durante doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos a comida destinada ao governador. Mas os governantes anteriores, aqueles que me precederam, puseram um peso sobre o povo e tomaram deles quatrocentos e oitenta gramas de prata, além de comida e vinho. Até os seus auxiliares oprimiam o povo. Mas, por temer a Deus, não agi dessa maneira. Ao contrário, eu mesmo me dediquei ao trabalho neste muro. Todos os meus homens de confiança foram reunidos ali para o trabalho; e não compramos nenhum pedaço de terra. Além do mais, cento e cinqüenta homens, entre judeus do povo e seus oficiais, comiam à minha mesa, como também pessoas das nações vizinhas que vinham visitar-nos. Todos os dias eram preparados, à minha custa, um boi, seis das melhores ovelhas e aves, e cada dez dias eu recebia uma grande remessa de vinhos de todo tipo. Apesar de tudo isso, jamais exigi a comida destinada ao governador, pois eram demasiadas as exigências que pesavam sobre o povo. Lembra-te de mim, ó meu Deus, levando em conta tudo o que fiz por esse povo”. Neemias 5:14-19

Como líder, como autoridade, como governador, e principalmente como servo de Deus o que dava ao argumento dele força e credibilidade era o seu próprio exemplo. Ele mesmo vivia de forma simples, ajudando e alimentando outros. Não cobrava juros ou pagamentos.

Ele mesmo colocou a mão na massa e ajudou a reconstruir o muro. E ele mesmo diz o porquê age assim: “Mas, por temer a Deus, não agi dessa maneira”. Neemias 5:15.

Sobre toda essa história. Sobre todas as questões aqui levantadas, no que isso te impacta? O que essa palavra tem a dizer pra você hoje?

Levanto três aspectos para refletirmos:

1 Se somos seres humanos e cristãos (um povo só como servos de Cristo) será que estamos vivendo em união, ou nos dividindo por interesses próprios?

2 Qual exemplos estamos sendo diante das injustiças sociais ao nosso redor? O exemplo de Neemias nos ensina a viver de forma a confrontar a injustiças sociais e as maldades nesse mundo, buscando unir pessoas e não separá-las.

3 Que liderança você tem exercido na sua casa? No seu trabalho? E na sua família? Todo criança exerce liderança onde Deus o colocou para tal! Pense nisso e seja uma liderança exemplar assim como Neemias!

Perguntas para edificação:

1 Compartilhe um grande imprevisto que teve em sua vida e como lidou com ele?

2 Você aprendeu a lidar com situações difíceis na vida que surgem de repente?

3 O exemplo de Neemias te confronta em alguma área da vida que precisas mudar?