Compartilhe!!!


Recomeçando 

Da amargura a gratidão 

Quem gosta de plantas, estuda ou lida com elas, sabe qual a importância e a força das raízes para a planta toda. Plantas tem diferentes tipos de raízes, algumas tem raízes mais superficiais, outras mais profundas. Algumas possuem raízes grossas e extensas outras raízes mais finas e curtas.  

Dependendo do tipo de solo, quantidade de água, sol e nutrientes que a planta recebe, ela terá raízes diferentes. O meio em que a planta está e o que é feito com essa planta define, também, a qualidade de suas raízes. Vale lembrar que as raízes são diferentes de planta para planta, de acordo com sua necessidade. A raiz do Ypê, por exemplo, é criada para sobreviver em extremos, inclusive para resistir as queimadas.  

O Ypê é uma árvore também do cerrado e suas raízes têm um mecanismo de sobrevivência. Para se 'reproduzir' o Ypê lança raízes a metros de distância e dessa raiz surge um novo broto e um novo pé. Então, mesmo que você corte o pé de Ypê ou coloque fogo na árvore (o que acontece com frequência no cerrado) a raiz vai permanecer viva e vai soltar diversos brotos, tanto perto do tronco, quanto longe. Assim, se você não se livrar das raízes você terá grandes dificuldades de eliminar completamente o Ypê. 

Por que aprender sobre raízes numa pregação?  

Porque nós também temos em nossa identidade, em nosso interior, raízes que cresceram e se instauraram e que mesmo que ninguém veja, mesmo que tenha sido podado externamente elas ainda estão no íntimo e ainda mexem conosco e nos moldam. 

Essas raízes podem ser boas, como as raízes que formam nosso caráter e princípios, nossa ligação com a família e com pessoas queridas a nós, ou podem ser ruins, como raízes de traumas, de sofrimento, de ensinamentos errados e aquelas que nós vamos focar essa noite: podem ser raízes de amargura.  

As raízes de amargura são difíceis de serem notadas no início, mais difícil ainda, de admitirmos quando se instauram em nós, mesmo assim, elas causam um grande estrago. Hoje vamos olhar para essas raízes em nós que nos machucam, nos impedem de experimentar a graça e o poder de Deus e confiar nele.  

Vamos a Rute, a um trecho que nos fala sobre raízes de amargura: 

"Quando Noemi viu que Rute estava de fato decidida a acompanhá-la, não insistiu mais. Prosseguiram, pois, as duas até Belém. Ali chegando, todo o povoado ficou alvoroçado por causa delas. "Será que é Noemi? ", perguntavam as mulheres. 
Mas ela respondeu: "Não me chamem Noemi, chamem-me Mara, pois o Todo-poderoso tornou minha vida muito amarga! De mãos cheias eu parti; mas de mãos vazias o Senhor me trouxe de volta. Por que me chamam Noemi? O Senhor colocou-se contra mim! O Todo-poderoso me trouxe desgraça! "Foi assim que Noemi voltou das terras de Moabe, com sua nora Rute, a moabita. Elas chegaram a Belém no início da colheita da cevada". Rute 1.18-22 

Noemi está vivendo o luto. Primeiro faleceu seu marido e depois de algum tempo seus dois filhos, antes mesmo de terem dado a ela netos. Ela estava longe de sua terra natal e de sua parentela na terra de Moabe e decide retornar a Belém sua cidade natal. Noemi volta acompanhada de Rute, sua nora, mas essa mulher que foi para Moabe para ter uma vida melhor com seu marido e filhos, retorna desolada, sem perspectiva e numa profunda tristeza. Ela está num profundo sofrimento.  

Na última pregação olhamos para Rute e como ela reagiu aos sofrimentos que encarou, hoje vamos olhar um pouco mais para Noemi. As palavras de Noemi tanto no trecho que lemos, como no início do capítulo, mostram como Noemi estava sentindo-se diante de tudo que enfrentara. Para ela a vida se tornou pesada, dolorosa, sem esperança. Ela havia perdido a esperança e não vislumbrava mais algo bom ou esperançoso no futuro.  

É justamente por não conseguir ter esperança, por não ver a luz no fim do túnel, que Noemi pede para suas noras irem embora e voltarem para suas famílias. Para ela não havia mais felicidade, ela estava apenas enxergando a tristeza diante de si. Rute ao não abandonar a sogra precisa lidar com uma mulher assim, amarga e amargurada, triste e sem perspectiva.  

Ao chegarem a Belém elas são bem recebidas pelas pessoas que lembravam de Noemi e sua família, pelos velhos amigos, mas quando esses demonstram empolgação com a sua volta, Noemi de imediato corta essa empolgação dizendo: 

"Não me chamem Noemi, chamem-me Mara, pois o Todo-poderoso tornou minha vida muito amarga! De mãos cheias eu parti; mas de mãos vazias o Senhor me trouxe de volta. Por que me chamam Noemi? O Senhor colocou-se contra mim! O Todo-poderoso me trouxe desgraça! " Rute 1.0-21 

Olha só que interessante, o nome “Noemi” significa "agradável" e, com certeza, ela devia ter sido uma pessoa muito agradável já que as noras gostavam tanto dela. No entanto, naquele momento ela não conseguia mais ser assim, o sofrimento mudou Noemi e ela tornou-se amarga, por isso, ela pede que a chamem de "Mara", nome esse que significa "amarga".  O sofrimento que Noemi enfrentou fez crescer raízes nela, raízes de amargura. Essas raízes tornaram a vida pesada, sem brilho, sem esperança.  

Nós percebemos facilmente quando convivemos com alguém assim, por outro lado, nós normalmente não percebemos quando nos tornamos assim, não percebemos quando a amargura está crescendo em nós, é mais fácil reparar nos outros.  

Há algumas características que podemos observar numa pessoa amargurada:  

  • O amargurado tem o hábito de reclamar e desanimar os demais ao seu redor, há sempre algo para colocar defeito, para criticar, para tirar o brilho.  
  • Uma pessoa amargurada tem dificuldade de se alegrar e ser grato, para ele é mais fácil criticar, murmurar e ressaltar sempre o que está ruim ou errado. É alguém que tem extrema dificuldade de olhar para as situações e se alegrar, sorrir, agradecer. 
  • Outra característica de alguém amargurado é que quando se toca no assunto ele possui diversas explicações para aquele sentimento que carrega. É como se carregasse consigo um saco de estrume, de merda. Esse saco fede, incomoda a ele e as pessoas ao redor. Mas por ele não querer ou não conseguir largar, ele continua a carregar e por onde passa contamina os ambientes.  

A vida de quem possui raízes de amargura se torna mais pesada e difícil, é uma vida de sofrimento. E nós precisamos estar atentos a amargura, pois todos estamos suscetíveis a criar raízes de amarguras em nós, pelos mais diversos motivos. No caso de Noemi foi o luto, a dor da perda que gerou essa amargura. Algo muito difícil de lidar e de renovar a esperança, ela perdeu muitas pessoas, perdeu praticamente tudo o que tinha. Mas não é só o luto que pode nos tornar amargos.  

Algumas situações que podem gerar raízes de amargura: 

- Uma decepção com uma pessoa que nos magoou pode criar em nós uma raiz de amargura;  

- Um perdão não liberado;  

- Uma frustração de algo que não conseguimos ou não alcançamos como um emprego ou uma faculdade;  

- Falas de pessoas que nos são próximas e queridas, mas que nos ferem por não sabermos lidar com aquilo;  

- Oportunidades perdidas e arrependimentos daquilo que não vivemos ou não falamos;  

- Situações que fogem do nosso querer e nos fazem culpar outros;  

Esses são alguns exemplos para pensarmos em nossas vidas, pois, nós precisamos com sinceridade olhar para os nossos corações e perceber se há ali pequenas raízes de amargura. Pois uma raiz é pequena no início, mas ela cresce, se fortalece, vai ocupando mais espaço e quando vemos se torna difícil de remover.  

Algo que precisamos estar atentos em nossa caminhada de fé e vida é se nós estamos acumulando e alimentando raízes de amargura no nosso íntimo. Por mais difícil que seja admitir que elas estão ali, o quanto antes o fizermos e começarmos a arrancar essas raízes melhor. Conforme o tempo passa a amargura cresce em nosso coração e nós mudamos quem somos. Há pessoas que perdem sua essência, perdem o brilho nos olhos, pois não se deixam mais transformar pela ação do Espírito por não quererem tratar essas amarguras.  

Noemi teve motivos sim para demonstrar sofrimento, para chorar, para se entristecer com a vida. Não devemos pensar que os sofrimentos não podem nos abalar, o que eles não podem é se tornar permanente em nós passando a definir nossa identidade e removendo nossa esperança.  

Em Hebreus temos uma advertência quanto a isso:  

“Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus. Que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando a muitos”. Hebreus 12:15 

Hebreus nos adverte sobre o perigo da amargura crescer em nosso coração e inclusive nos afastar de Cristo e da sua graça. Isso é algo sério, afinal, se eu escolho permanecer com minha amargura guardada em mim eu estou dizendo não ao trabalhar do Espírito em meu coração, não ao perdão de Deus sobre a minha vida e a vida daqueles que eu culpo pela minha amargura.  Sem falar que o texto deixa claro que alguém que possui raízes de amargura contamina a muitos, ou seja, o amargurado afeta as pessoas ao seu redor.  

Noemi no momento de angústia e desespero culpa Deus por tudo aquilo que ela estava vivendo, para ela quem tornou sua vida amarga foi o próprio Deus. Afinal, tudo que ela possuía, ela perdeu. Esse é um pensamento comum diante do sofrimento. Afinal, Deus é todo-poderoso ele pode fazer o quiser com nossa existência, então por que ele permite que coisas assim aconteçam? A questão é que nos esquecemos de que a morte e o sofrimento são consequências da condição em que estamos, a de pecadores, separados de Deus e, por isso, mortais.  

O sofrimento não necessariamente é punição de Deus, mas toda a vida é necessariamente graça dele. A dor não é um castigo de Deus, mas toda a vida, tudo de bom que há ao nosso redor, cada sorriso, cada segundo de vida é graça dele. Nós costumamos olhar o que nos foi tirado, mas não olhamos tudo o que o Senhor nos presenteou. Nos amarguramos pelo que perdemos, mas não nos alegramos pelo que ganhamos.  

Isso porque o que foge dos nossos planos, do nosso controle ou da nossa preferência não nos agrada, então quando algo assim acontece precisamos culpar alguém, muitas vezes, esse alguém é Deus, justo aquele que nos deu a vida, nos permitiu ser gerados no ventre e nos sustenta em sua criação. Culpar outra pessoa pela amargura que está em mim torna a situação mais justificada pra mim mesmo.  

Quando lemos essa advertência em Hebreus podemos olhar para a vida de Noemi e perceber que raízes de amargura cresceram no coração dela. Ao mesmo tempo, precisamos olhar para a nossa vida e perceber se há no nosso coração raízes de amargura que tem tomado espaço, nos tirando a gratidão, nos tirando a alegria verdadeira em viver, nos tirando a confiança em Deus.  

Lembre: essas raízes começam pequenas! É uma situação que guardamos, um perdão não liberado, uma frustração vivida e as raízes vão se multiplicando, vão crescendo e nós vamos mudando de pessoas agradáveis a amargas.  

Para quem conhece a história de Noemi e Rute sabe que essas duas mulheres foram cuidadas pelo Senhor de forma incrível, tiveram uma vida feliz em Belém e reconstruíram uma linda família. Noemi consegue novamente agradecer ao Senhor e perceber o quanto foi agraciada. Ela se alegra novamente e deixa de ser amarga, diferente de muitas pessoas que morrem carregando as amarguras da vida consigo. Morrem brigadas e afastadas de família, amigos e da igreja porque preferiram ficar com as raízes de amargura do que arrancá-las.  

Olhando para a história de Noemi e para o conselho de Hebreus quero reforçar algumas questões:  

- Mude da amargura para gratidão: Os desafios da vida podem nos tornar pessoas amargas, murmuradores, que apenas olham para o que foi ruim e deu errado ou podem nos levar a confiar ainda mais em Deus e agradecer por cada detalhe que ele nos permitiu viver e experimentar, sabendo que cada segundo de vida é graça dele derramada sobre nós; 

- Não culpe, desculpe! Achar culpados para nossas tristezas e amarguras é uma forma de nos isentarmos da responsabilidade e justificar nossas amarguras, mas o Senhor nos chama a uma nova vida, a arrancar essas raízes de amargura fora e cultivar as raízes de gratidão e confiança Nele, então libere perdão as pessoas que lhe fizeram mal, haja com compaixão com os outros e consigo mesmo e deixe o Espírito trabalhar em seu íntimo;  

- Renove a esperança e não perca fé! Se nossa esperança se limita a essa vida então somos infelizes e pobres, pois nunca conseguiremos nos alegrar plenamente, mas se sabemos que nosso tempo aqui é limitado, mas que o Senhor Jesus deu sua vida por nós para estarmos com Ele na eternidade e sem sofrimentos então conseguiremos viver dias mais leves, passar pelas dores com mais calma e voltar a sorrir no tempo que nos for oportuno.  

Perguntas para pequenos grupos:  
     1. O que lhe chama atenção nesse texto?  

  1. O que Deus te chama a viver a partir dessa pregação?