Chamados para missão 

Desertores 

No livro “Espiritualidade Emocionalmente Saudável” O autor Peter Scazzero aborda uma temática muito interessante: os “desertores” da igreja. Um grupo que segundo ele cresce cada vez mais.

O desertor é aquele que abandona a missão a tarefa que lhe foi confiada. Um desertor é aquele que abandona aquilo que acreditava e confiava.

No livro o autor elenca três grupos de desertores diferentes:

1º Aquele que desertou da comunidade, permanece com sua fé sincera mas desistiu de vivê-la em comunidade;

2º Aqueles que são desertores, mas permanecem dentro da comunidade de forma passiva, apenas desistiram de se envolver, de servir, de lutar por mudanças;

3º Aqueles que desistiram da comunidade e da fé, resolvendo jogar tudo pro alto, pois a espiritualidade que lhe foi apresentada apenas mobilizou;

Segundo o autor, esse primeiro grupo é composto por homens e mulheres que assumiram um genuíno compromisso com Cristo, mas com o tempo perceberam, lenta e dolorosamente, que a espiritualidade disponível na igreja não produzira qualquer profunda mudança de vida em Cristo – nele e em outras pessoas.

Entre os desertores estão os que permaneceram nela, mas simplesmente se tornaram inativos. Após muitos anos de frustração e decepção, eles se retiraram, ao menos interiormente, até permanecem na igreja mas passivamente, estão ali por conveniência.

E o terceiro grupo é aquele que escolhe jogar a fé pela janela. Sentiam-se presos e imobilizados em sua jornada espiritual, e se cansaram. Então são desertores da igreja e da fé.

E nós?

Talvez, em algum momento de sua vida, você se encaixou ou se encaixe num desses grupo de desertores. Por motivos mais diversos, desistimos da igreja e decidimos viver nossa fé sozinhos, ou desistimos de nos envolver nos problemas da igreja e permanecemos nela apenas como ouvintes, ou ainda, desistimos da fé e da igreja e decidimos jogar tudo pro alto e mudar completamente.

Os motivos que levam pessoas a serem desertores cristãos são os mais diversos, e não quero questionar esses motivos hoje, quero apenas lhe perguntar se de alguma forma você se sente ou já se sentiu um desertor?

Os mais diversos motivos levam pessoas a serem desertores numa comunidade, motivos pessoais, conflitos, diferenças de ideias e convicções, vontade de experimentar um mundo onde não precisa se preocupar em fazer a vontade de Deus, e daí por diante.

Nesse mês eu lhe convido a estudar e se aprofundar na história de um desertor. Um personagem bíblico que quis abandonar e fugir da missão que Deus o havia dado. 

Jonas – o desertor

“A palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai com esta ordem: "Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença".

Jonas 1:1,2

Jonas foi um profeta. E o papel dos profetas é basicamente chamar o povo ao arrependimento mostrandolhes a verdade na Palavra de Deus. Jonas tem uma missão bem específica e clara: de ir até a cidade de Nínive e pregar contra ela, ou seja, falar para aquele povo da sua maldade e do juízo de Deus por causa daquela maldade.

A cidade de Nínive não pertencia ao povo de Israel (aspecto interessante nessa história). Deus era cultuado basicamente apenas no povo de Israel, no entanto a missão de Jonas ultrapassa essa barreira geográfica, étnica e cultural. A missão que Deus dá a Jonas é de ir a um outro povo, a pagãos, que cultuavam outros deuses e lá pregar a Palavra. Mais interessante ainda, é que essa cidade era inimiga de Israel, uma potência que á ameaçava o povo de Deus e que anos mais tarde veio a destruir o Reino do Norte.

Deus ao mandar Jonas a esse povo está mostrando a Israel que ele não era exclusivo deles, afinal, Israel tinha sido chamado para ser benção aos demais povos, ao invés disso (de propagar a Palavra de Deus) eles se deixaram influenciar pelos povos vizinhos se desviando dos propósitos de Deus e esquecendo sua missão: ser benção a todos os povos.

Jonas é um profeta chamado para ser parte dessa missão, para ser benção, pregando a verdade de Deus) a um povo diferente e inimigo.

Fugindo da presença de Deus

Normalmente os profetas são tidos como obedientes a Deus e prontos para cumprir suas missões. Jonas já destona dessa linha. A reação dele é contrária de que nós esperaríamos de um enviado de Deus:

“Mas Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis. Desceu à cidade de Jope, onde encontrou um navio que se destinava àquele porto. Depois de pagar a passagem, embarcou para Társis, para fugir do Senhor”. Jonas 1:3

Jonas decidiu fugir da presença de Deus e tomar outro caminho, fugindo da missão que lhe fora dada. Ele decidiu ser um desertor e não mais servir a Deus como um profeta. Com isso ele comprou uma passagem e embarcou em direção a Tarsis, com o propósito de fugir de Deus.

É possível desertar e fugir de Deus? É possível fingir que ele não está ali e se esconder?

Nós até podemos pensar que não, que isso é impossível, afinal, Deus está em todo lugar ele é onipresente, mas, quantas vezes, nós somos verdadeiros desertores fingindo que Deus não está presente e arranjando desculpas para fugir dele?

Nós fazemos isso, fugimos de Deus, quando arranjamos justificativas para nosso erro, justificativas por ter abandonado nossas convicções e nossa fé, achamos culpados pelo nosso distanciamento da comunidade.

Nós achamos que podemos fugir de Deus se fingirmos que ele não está ali, se fingirmos que Ele não existe, se fingirmos que ele não deseja o melhor de nós. Jonas também sabia que Deus estava com ele sempre, mas ele também enganou-se achando que podia fugir, que era possível se esconder.

Deus, no entanto, não abandona Jonas em sua tentativa imatura. Deus não desiste desse profeta teimoso e desertor, ele é mais insistente e amoroso do que Jonas pensava, ensinando Jonas sobre perdão e misericórdia com um grande acontecimento.  

A tempestade

“O Senhor, porém, fez soprar um forte vento sobre o mar, e caiu uma tempestade tão violenta que o barco ameaçava arrebentar-se. Todos os marinheiros ficaram com medo e cada um clamava ao seu próprio deus. E atiraram as cargas ao mar para tornar mais leve o navio. Enquanto isso, Jonas, que tinha descido para o porão e se deitado, dormia profundamente. O capitão dirigiu-se a ele e disse: "Como você pode ficar aí dormindo? Levante-se e clame ao seu deus! Talvez ele tenha piedade de nós e não morramos". Então os marinheiros combinaram entre si: "Vamos tirar sortes para descobrir quem é o responsável por esta desgraça que se abateu sobre nós". Tiraram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Por isso lhe perguntaram: "Diga-nos, quem é o responsável por esta calamidade? Qual é a sua profissão? De onde você vem? Qual é a sua terra? A que povo você pertence? " Ele respondeu: "Eu sou hebreu, adorador do Senhor, o Deus dos céus, que fez o mar e a terra". Com isso eles ficaram apavorados e perguntaram: "O que foi que você fez? ", pois sabiam que Jonas estava fugindo do Senhor, porque ele já lhes tinha dito. Visto que o mar estava cada vez mais agitado, eles lhe perguntaram: "O que devemos fazer com você, para que o mar se acalme? "

Respondeu ele: "Peguem-me e joguem-me ao mar, e ele se acalmará. Pois eu sei que é por minha causa que esta violenta tempestade caiu sobre vocês". Ao invés disso, os homens se esforçaram ao máximo para remar de volta à terra. Mas não conseguiram, porque o mar tinha ficado ainda mais violento. Então eles clamaram ao Senhor: "Senhor, nós suplicamos, não nos deixes morrer por tirarmos a vida deste homem. Não caia sobre nós a culpa de matar um inocente, porque tu, ó Senhor, fizeste o que desejavas". Então, pegaram Jonas e o lançaram ao mar enfurecido, e este se aquietou. Ao verem isso, os homens adoraram ao Senhor com temor, oferecendo-lhe sacrifício e fazendo-lhe votos. Então o Senhor fez com que um grande peixe engolisse Jonas, e ele ficou dentro do peixe três dias e três noites”. Jonas 1:4-17

Algo importante para não confundir:

O texto diz claramente que foi Deus quem mandou o vento forte e a tempestade. Foi Deus quem criou aquela situação de desespero que abalou o barco a ponto de quase afundar. Se levarmos isso “ao pé da letra”, podemos pensar e interpretar da seguinte maneira: quando algo ruim acontece é porque Deus está no dando uma lição!

Na verdade, não! Uma parte dos acontecimentos difíceis são apenas consequência daquilo que nós mesmos plantamos, consequência do que nós fizemos ou do que pessoas ao nosso redor fizeram. Outra parte é consequência do pecado e da maldade desse mundo, não são causadas por Deus, consequência do pecado desse mundo mal e que sofre com a queda (como doenças e tragédias naturais).

Mas algumas questões específicas, assim como a de Jonas, fazem parte do plano de Deus, mas elas tem um propósito específico: chamar ao arrependimento, chamar de volta para a reconciliação com ele. Quando na Bíblia nós vemos relatos assim com pessoas que eram servas de Deus é porque Deus tinha um propósito específico, não de condenar, mas de reconciliar, não de castigo em si mas de reconciliação.

Esse é o caso de Jonas. Os homens quando o encontram perguntam: O que foi que você fez? Pois ele tinha dito que estava fugindo de Deus. Ele então diz: Joguem-me ao mar!

O poder de Deus e sua misericórdia

Os homens que lançam Jonas ao mar temem o castigo de Deus, mas ao fazerem já perdem perdão. De imediato, após Jonas ser lançado o mar se acalma, e Jonas é engolido por um grande peixe e ali permanece por três dias. Com isso, os homens do barco entendem que o Deus de Jonas era supremo, soberano.

É o momento de Jonas ser sincero e entender que a vontade de Deus é soberana, é boa, perfeita e agradável, afinal, não tinha para onde fugir, era impossível escapar.

O ato de Jonas de tomar a direção oposta a Nínive com a intenção de fugir de Deus, mostra a ingenuidade de Jonas enganando-se a sim mesmo. Tarsis era muito mais atraente do que Nínive, segundo historiadores uma cidade muito melhor, mais atrativa, sem falar que ficava na direção oposta de Nínive, perfeita para fazer a vontade própria fugindo do chamado de Deus.

Quantas vezes nós preferimos um lugar mais cômodo, e achamos muitas desculpas para ir no sentido oposto ao qual Deus nos chamou?

Achamos que fugir de Deus e esconder a verdade é melhor, afinal, servir a Deus é difícil, Deus pede para perdoar, amar e cuidar, mas as pessoas não merecem isso, elas não valorizam isso, elas nos machucam, então, porque se esforçar por elas?

Essa era exatamente a situação de Jonas. Deus o envia para anunciar o juízo a capital da Assíria, um reino extremamente mal, que dizimava povos inteiros, destruía tudo por meio de guerras e que era uma ameaça a Israel. Além disso, foi a Assíria que anos mais tarde destruiu o Reino do Norte, o Reino de Israel.

Foi a esse povo, a essas pessoas más, que Jonas foi mandado. Diante disso ele fugiu.

Como isso tem a ver conosco!

‘ Quantas vezes fugimos preferindo ficar no conforto do nosso mundinho, afinal,  pregar o evangelho às pessoas da trabalho demais, elas são ingratas, não dá’!

Quantas vezes correr para o lado oposto é mais fácil, para uma missão mais confortável, onde não é preciso lidar com situações difíceis.

Até que Deus nos encontra e nos paralisa. Deus com seu imenso amor e sua misericórdia vem até nós e diz: agora chega de fugir, chega de fingir que você não conhece a verdade. Chega de ser um desertor.

Quantas pessoas escolhem ser desertores vivendo sua fé sozinhos, fugindo da missão que Deus nos dá de ser corpo de Cristo e pregar o Evangelho.

Quantas pessoas desistem de se importar com os outros e se tornam desertores, dentro da comunidade, desistem de ser parte dela e de fazer a diferença, desistem das pessoas e não amam elas o suficiente para levar elas ao amadurecimento.

Hoje nós paramos por aqui. Paramos nesse relato de Jonas dentro do grande peixe, em uma oportunidade para parar de fugir e responder: O que você está fazendo?

Na próxima semana seguimos essa temática, mas por enquanto, responda essas perguntas:

1. Pensando nos três tipos de desertores da igreja: você se identifica com algum?
2. A partir de Jonas 1: como Deus lida com a fuga de Jonas? 
3. O que você consegue aplicar na sua vida a partir desse estudo de Jonas 1?