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A medida do perdão

 

Exercitando o perdão

Eu sempre gosto de brincar dizendo que Deus inventou o irmão para que nós aprendêssemos a perdoar. Talvez você seja filho único, mas se possui irmão sabe que exercitamos o perdão todos os dias e, às vezes, mais de uma vez por dia com nossos irmãos.

Eu e o meu irmão éramos especialistas em brigar. Quando ficávamos sozinhos era briga na certa, porém, quando meus pais chegavam já tínhamos resolvido tudo, assim, eles nem ficavam sabendo. Com base na minha experiência eu brinco que Deus criou o irmão para aprendermos a perdoar.

Mas mesmo tendo dez ou quinze irmãos, mesmo assim, o perdão é sempre um desafio, algo que precisamos de novo e de novo ter coragem para exercitar. E, se pensarmos bem, mesmo tendo vários irmãos, muitas pessoas nunca aprendem a pedir perdão pessoalmente a alguém nem a liberar perdão.

A dificuldade de olhar nos olhos e pedir perdão

Podemos dizer que temos outros caminhos que nos livram de pedir perdão e, muitas vezes, optamos por esses caminhos, ao invés, de encarar o olho no olho, encarar um verdadeiro pedido de perdão.

Preferimos simplesmente deixar o tempo passar e voltar ao relacionamento como se nada tivesse acontecido, ou simplesmente deixar de se relacionar com aquela pessoa, deixar de lado a pessoa e seguir sem ela. São caminhos mais fáceis, mas são caminhos errados, que não geram transformação de caráter, que não geram cura, só escodem o problema por algum tempo. Não mude o caminho, não pegue atalhos! O perdão é a solução de Deus para nós, para relacionamentos verdadeiros e duradouros.

Pois quando não passamos pelo processo de admitir o que fizemos de errado, ir ao encontro do outro e pedir perdão, não vamos mudar e continuaremos a magoar aquela pessoa e também outras, por que na verdade não tratamos o problema em nós mesmos.

Te convido a meditar no texto de Mateus 18.21-22 Vamos juntos entender a finalidade do perdão na vida cristã.

“Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? "Jesus respondeu: "Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete”. Mateus 18.21-22

Pedro foi bem generoso! Afinal a Lei orientava perdoar apenas três vezes. Generoso ou ingênuo? De forma bem simples e prática ele quer saber quantas vezes ele precisa perdoar alguém, por isso a pergunta: até 7? Um número bem generoso, pois pela Lei o povo entendia que era preciso perdoar apenas 3 vezes.

 Mas a resposta de Jesus é desconcertante: não até 7 mas até 70x7 ou 77. O número aqui não importa tanto, a questão é que Jesus aumenta essa numeração de forma que seria praticamente impossível contar ou você ficaria contando até que alguém te magoasse 77 vezes, para então parar de perdoar? Ou se fizermos a conta 490 vezes?

Jesus está querendo mostrar que o perdão está presente na vida dos seus discípulos de tal forma que é algo que vivemos a todo momento, que é essencial, que não tem como contar.

Pensando nisso, a pergunta de Pedro é ingênua e egoísta ao mesmo tempo.  Mas não é assim que nós somos? Egoístas, ingênuos e orgulhosos a ponto de dizer:

- Errar é humano, permanecer no erro é burrice!

- Eu cansei de perdoar!

- Eu só vou perdoar se ele vier me pedir perdão!

- Não vou perdoar, aquilo ali não muda nunca!

Como somos pequenos, pobres e orgulhosos ao pensar dessa maneira1 Mas Jesus tem muito a nos ensinar a esse respeito, então, vamos continuar a leitura do texto:

"Por isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos. Quando começou o acerto, foi trazido à sua presença um que lhe devia uma enorme quantidade de prata. Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida. "O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir. "Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve! "Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei’. "Mas ele não quis. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido. "Então o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você? Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia. "Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão". Mateus 18:23-35

Esta parábola fala do reino de Deus e de como devem agir os discípulos do Reino. Então vamos compreender o que está acontecendo.

O rei chama um servo seu para acertar uma dívida de 10.000 talentos. Vamos compreender o tamanho dessa dívida: 1 talento valia mais ou menos 6.000 denários, 1 denário era o pagamento de um dia de trabalho de um trabalhador braçal, então fazendo as contas se 1 talento equivaliam a 6.000 denários então esse homem estava devendo 60 milhões de denários para o seu patrão. Para pagar isso ele deveria trabalhar cerca de 164.000 (mil) anos.

Por que é importante fazer essa conta? Para compreendermos que na verdade esse servo jamais conseguiria pagar esse valor, pois era um valor absurdo.

O rei com amor e compaixão perdoa a dívida impagável do servo e o deixa ir embora. No entanto, ao sair dali esse servo encontra um conservo seu, alguém que lhe devia 100 denários, ou seja, 100 dias de trabalho, o que se pagaria em 3 meses e meio.   

Esse homem que teve uma dívida impagável perdoada pelo seu rei, cobra de alguém uma dívida insignificante, e quando esse pobre homem clama por tempo para pagar a dívida ele manda prende-lo.

Vendo essa cena alguns homens vão contar ao rei o que havia acontecido. O rei chama o servo e lhe diz: “Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. Você não deveria ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você?”

Sempre que Jesus conta uma parábola nós precisamos perguntar: o que ele está ensinando? Quem são esses personagens que ele cita?

Nessa parábola precisamos compreender que o rei é o próprio Deus. O servo é você, sou eu, cada um que se tornou discípulo de Cristo e teve a sua dívida perdoada.  E a dívida? É o nosso pecado. Essa dívida enorme e impagável é o nosso pecado.

É impossível quitarmos a dívida. Por isso nossa solução é o perdão de Deus, nós nos agarramos no que Cristo já fez por nós na cruz. Ali a nossa dívida foi paga, uma dívida que nos separava de Deus e que jamais conseguiríamos quitar.

Então quem é o conservo e a dívida menor? São as pessoas a nossa volta que erram, que falham conosco, que nos magoam, que nos traem.

Jesus está mostrando na parábola que temos uma dívida enorme e impagável e ele perdoou essa dívida morrendo por nós na cruz. Sendo assim, como não  perdoar àqueles que falharam conosco? Será que temos o direito de cobrar algo tão pequeno se Deus nos perdoou de algo tão grande?

E falando sobre pedir perdão, o que a parábola ensina? Ignorar? Livrar-se da pessoa que nos magoa? Querer seus direitos causando o mau ao outro? A parábola nos ensina que perdão é olho no olho, é conversa é diálogo.

Esquecer ou fingir que não aconteceu não é perdoar. Ir ao encontro do outro e ter a coragem de dizer “eu errei, me perdoa” é isso que um cristão precisa aprender sabendo, também, o que de fato fez de errado.

Você já percebeu que ao orar pedindo perdão nós muitas vezes fazemos isso por atacado?

É mais ou menos assim: “Senhor, perdoa se falhei, perdoa todos os meus pecados, me ajude a ser um cristão melhor, Amém”. Mas se você nem sabe onde você falhou como você vai buscar a mudança para não pecar novamente?

Quando um pai e uma mãe corrigem seus filhos, ele precisam deixar claro qual foi o erro cometido. Os filhos precisam saber o que fizeram de errado para buscar não fazer mais. Mas se eles não sabem o que fizeram vão continuar agindo do mesmo jeito. Isso nós também precisamos aprender. Quando erramos, falhamos, pecamos, precisamos pedir perdão a Deus e ao próximo pela falha cometida, tendo ciência dessa falha. Com isso, podemos buscar mudar aquela atitude para que não se repita.

Perdoar e pedir perdão

Talvez você ainda precisa perdoar alguém. Pense, tem algo guardado e preso dentro desse coração? Alguém que você não perdoou? Ou alguém que você não pediu perdão?

Vamos voltar a pergunta de Pedro:  Quantas vezes precisamos perdoar?

Até não conseguir contar mais, ou seja, perdoar sempre, lembrando que Deus nos perdoou da maior dívida que já existiu, o pecado. Não é algo fácil, mas precisamos aprender a perdoar mesmo que o outro nunca venha pedir perdão. Precisamos orar e entregar nas mãos de Deus o nosso medo de perdoar. Deixar o ódio e a raiva, para que o amor de Cristo brilhe novamente em nós.

Ser Cristão é viver o perdão todos os dias, várias e várias vezes. É saber perdoar mas, também, pedir perdão.

O quanto você tem sido verdadeiro no teu relacionamento com Deus e com o teu próximo e pedido perdão?

O seu arrependimento é genuíno?

Então vá e peça perdão pela tua falha! Mas aprenda também a perdoar.

Não se esqueça, todos nós seres humanos, enfrentaremos os dos lados dessa moeda. Um dia perdoando e no outro pedindo perdão. Então, aprenda a se colocar no lugar do outro, aprenda a amar mais e julgar menos. E se nem isso for o suficiente para te convencer, então, olhe para o exemplo de Jesus, ele perdoou a sua dívida, você vai negar perdão ao seu irmão?